Tenório mata formigas desde os cinco anos. Agora com trinta e três, Tenório se profissionalizou. Ele não tem amigos, ele não tem mulher, Tenório é um homem fraco e com problemas pulmonares. Tenório fuma, sendo assim, presume-se que ele tenha uma constante vida interior. Ele pensa no passado em busca de expectativa para o futuro. Tenório acha a vida inútil. Tenório mora sozinho e dorme na cama onde sua mãe dormiu o último sono.
Esse corpo franzino passeia pelos parques de Porto Alegre em busca de formigueiros, vespeiros e qualquer outro ninho de praga. Ele um dia mirou seu canhão de inseticida para ele mesmo, sem pensar em suicídio, pensava apenas em resumir a queda que é a vida. Tossindo demais, não conseguiu mirar seu rosto. O veneno não alcançou suas mucosas e ele não teve êxito na tentativa.
Tenório herdou da mãe uma coleção de discos de Mercedes Sosa e ele canta todo dia "Gracias a La Vida" com ironia, toma banho com sabão e vai dormir. Sua casa fede a veneno.
No apartamento ao lado mora uma moça chamada Verônica. Ele sempre ouve Verônica reclamar das baratas quando fala ao telefone com uma amiga, sempre a mesma amiga. Um dia ele oferece seus serviços a ela, promete exterminar qualquer inseto daquele apartamento. Ela aceitaria e ele faria sexo pela primeira vez. Mas ela não aceita, pois tem medo dos olhos estrábicos de Tenório e de sua cicatriz por conta de uma traqueostomia. Ele nota a distância que ela toma para responder e mentir sobre a existência das baratas. Ela nega o fato de existirem esses insetos no seu apartamento e, assustada com a presença inesperada do estranho vizinho, fecha a porta.
Tenório ouve Verônica cantar no chuveiro todos os dias. O som sai da janela do banheiro dela e entra pela janela do quarto dele.
Um dia o canto alto de Verônica deu lugar a um choro baixo, típico de um ataque de pânico. Tenório pode ouvir, pois escutava com atenção a cantoria da vizinha enquanto tentava esquecer sua tentativa frustrada de prestar serviço a ela, então logo imaginou ser uma invasão daqueles insetos que Verônica tanto reclamava ao telefone.
Tenório viu ali a chance de mostrar sua capacidade de executar um bom serviço.
Ele teve uma ideia e não hesitou por em prática. Tenório dependurou-se no parapeito da janela do seu quarto e colocou a mangueira do canhão de inseticida – assim ele chamava o artefato – na janela do banheiro da moça que continuava a chorar e disparou um litro de inseticida para dentro.
Tenório suspirou ao ver o trabalho completo e bem feito e ouvir o silêncio pleno tomar conta do banheiro vizinho, com exceção de Oh! You Pretty Things, que continuou tocando no rádio da vizinha. Tenório acabava com mais uma praga na sua vida.
Fui
Há 12 anos
3 comentários:
Sem palavras. Fantástico, Rubem.
Você tem a manha pra se enfiar dentro desses tipos "Tenório" e tecer um belo texto. Isso é demais cara, demais.
E o livro?
Abração!
adoro a maneira que você distribui o texto. muito bom, rubem :)
Olá, tudo bem?
Por favor, TODOS OS TEXTOS DESSE BLOG SÃO MEUS http://danilocechinatto.blogspot.com/
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PLAGIO É CRIME, E VC COMO ESCRITOR DEVE ME ENTENDER!!
OBG, LUARA!
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