domingo, 27 de abril de 2008

Editais.

Era um sábado, e ele acordava quase sempre as 13:33h, mas somente quando acordava de alguma festa ou qualquer coisa que o fizesse cansar, pois estava acostumado a acordar cedo, ás sete da mãnha para trabalhar. Levantou, ainda que com vontade de dormir mais um pouco, mas a dor na sua cabeça, o suor e o barulho do vizinho fariam a volta pra cama ser desagradavel; lavou o rosto, abriu a geladeira, coçou a bunda, tomou café lendo o seu vicio, editais de jornal, era mais um sábado em que ele se arrependia de ter saído, ou talvez de ter voltado pra casa.
Como naquela tarde de sábado chovia, não muito, mas o bastante para que Otávio nao quizesse sair pra algum lugar, da janela de sua casa ele observava a chuva e as pessoas abaixo correndo para fugir dela, enquanto ouvia o vinil de uma das suas bandas preferidas, já eram 14:30 mais ou menos, e ele ainda não havia pensado em nada de interessante para escrever, nem contos, nem música, nem frases que seguidamente 'apareciam' na sua mente, nem muito menos um sinonimo pra procurar no dicionário. Infeliz e se sentindo como alguma coisa vazia e sem criatividade, Otavio liga a tv e assiste um programa normalmente visto por mulheres solteiras ou mal amadas que ficam sozinhas em casa no meio da tarde.
Totalmente entediado ele cochila umas tres vezes até que pega no sono acordando somente na hora em que passava um anuncio/aviso, que seu País estava passando por uma revolta generalizada de diversas facções separatistas e que ele devia, como jovem, comparecer urgente a uma sede do quartel, levando os devidos documentos e deixando em casa sua mochila já pronta para que se fosse aceito, voltasse com os militares para busca-la e assim seguir viajem até a zona dos conflitos.
Otávio, como o resto dos civis, ja sabia da tal revolta dos grupos, mas não estava preparado, achando que era mais algum breve protesto como varios que já haviam ocorrido no seu país durante toda sua adolescência.
Á noite, após fazer contato com alguns amigos que também pela faixa etaria, deveriam se apresentar nas forças armadas, resolveu escrever alguma coisa que no momento vinha à sua cabeça, e suas palavras foram:
'' Depois de passar, grande parte da minha vida brincando com armas e matando meus inimigos que no outro dia acordavam mais cedo que eu e vinham me chamar para serem eles meus inimigos outra vez, agora eu de verdade sem a chance de acordar mais cedo que eles para chama-los a uma revanche, tenho que arrumar tudo que juntei na minha vida e resumir a uma velha mochila verde, e para aí então entrar em um carro que nao se move a pilha
e percorrer um longo caminho até encontra-los, e mata-los, agora pra sempre, sem que possam acordar mais cedo que eu e me chamar, e agora talvez seja pior, espero que meu pelotão siga sempre de olhos abertos para que uma revanche não nos faça dormir para sempre.''
Depois desses e mais poucos versos Otavio dorme com a caneta na mão, já esperando que uma buzina o acorde lá por umas cinco ou seis horas da mãnha, fazendo com que ele perca seu valioso domingo.
A viajem foi longa, diz o motorista para o Capitão, ou Sargento, ou alguem que cuidaria do provavel enganjamento de Otavio nas F.A do país.
Em uma sala que lembra um hospital, ele senta de frente ao mesmo homem que o recebeu, coloca sobre a mesa seus documentos, todos exigidos no anuncio que passava na televisao um dia antes.
Seu dialogo com o Capitão, ou Coronel ou seja o que for quem conversou com ele, foi rápido, perto do que Otavio esperava de um 'sargentao', ou Capitão, que foi o que ele deduziu ao ver a sigla Cap. no peito do homem.
O Capitão perguntou para ele qual era seu meio de sustento, Otavio respondeu francamente, que trabalhava na redação do Jornal Estatal, e que já havia escrito sobre os conflitos com os separatistas, o Capitão demonstra curiosidade, e diz também que não gosta de pessoas da midia, pois elas fazem um certo sensacionalismo com as reações que o quartel tem sobre os manifestantes e revolucionários, colocando as vezes medo nos civis que temiam uma ditadura rigida após esses conflitos que vinham crescendo a dois ou três anos. Otavio fica preocupado, com medo de ser recrutado pelo Cap. para que seja menos uma ''boca'' para a imprensa. Mas com muita inteligencia ele responde: ''Tenho uma visão diferente sobre a imprensa e seu sensacionalismo, levando em conta de que quando não era permitido divulgar nada sobre os conflitos com os rebeldes, a massa era enganada pela falsa história de que os civis que fossem a favor do conflito
e que se ''filiassem'' aos partidos revolucionarios estariam sendo felizes em suas decisões, já que nos acampamentos teriam do bom e do melhor, o que talvez nao seja mentira, mas nunca ressaltavam os riscos de vida que corriam lá, se por acaso houvesse conflito com as Forças Armadas, omitindo os conflitos eles insentivavam com mais facilidade o povo que só foi temer a filiaçao após a imprensa mostrar o modo desumano em que morriam os rebeldes. Pode não ser explicito, mas a midia mostrando as suas atrocidades ajuda a concientizar o povo. Eu assumo que já publiquei alguns 'zeros' a mais na hora em que escrevi sobre o numero de mortos e torturados, mas isso deve ter feito muitos desistirem de ser a favor a luta dos rebeldes.''
Depois de um aperto de mão, Otávio...Otávio... Dizia sua mãe, avisando ele para que não dormisse mais com a televisão ligada.