sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Sobre Bêbados

O balcão era liso, de madeira grossa, com um tom 'marronfosco' marcado pelo fundo dos copos de outras pessoas que já estiveram ali, pelo mesmo motivo, ou não.

Pessoas que já sentaram ali só para conversar; com a balconista, com o bêbado ao lado; para falar dos problemas com lagrimas ou com exagerada felicidade contar seus sucessos; para comemorar, falar do passado, sonhar com o futuro, odiar o futuro ou apenas estar presente, de frente aquele balcão envelhecido pelo tempo e o tempo é quem trás as pessoas para perto dele, não o tempo em seu simples estado abstrato, o tempo concreto, o tempo dos acontecimentos quase palpáveis. O tempo que muda o caminho, que trás problemas, que faz você sair de perto do balcão caminhando torto, para fora, chutado ou andando, para o banheiro caminhando ou correndo a vomitar. Coisas que muitas vezes já aconteceram ali, em frente ao balcão.

Enfim, pediu um cigarro, acendeu e viu a brasa queimar, como quem assiste ao fim de um filme, com os olhos de alguém que a visão já é falha e tem que ler muito de perto o livro, eram sim, com esses olhos que olhava a brasa queimar, apertando de leve as pálpebras como quem força a vista. O cigarro lhe fazia pensar no que beber, um café seria nada em frente ao seu problema à sua magoa, o seu luto. Fosse o que fosse ele queria sair da frente daquele balcão muito bem, ou quem sabe pior do que já entrou, mas com seu problema resolvido, ou quem sabe apenas com essa ilusão, a ilusão que vem durante o porre, aquele pensamento de que tudo está bem e que faz o bêbado otimista rir de tudo, enquanto os bêbados pessimistas só choram; esses são os que bebem para ver os problemas, são tolos, que bebem para lembrar das coisas que tantos não conseguem esquecer.

A fumaça já lhe contornava o corpo, naquele momento sozinho lembrava do que aconteceu a horas atrás, e o que lhe trouxera ao bar era aquela velha história que lhe fazia tremer por dentro, como febre, que lhe ardia os olhos e acelerava seu batimento cardíaco, não tinha cura, talvez tivesse, mas nunca pagaria por isso, achava besteira recorrer a esse tipo de tratamento logo aos 49 anos de idade, se aquilo lhe trouxesse o fim então que fosse logo, que viesse o fim enquanto ele estivesse bêbado e imune a dor. Alargou o nó na gravata e seu terno já descansava sobre seu colo, ainda não sabia o que beber.

Passou pela sua cabeça quantas vezes já estivera ali, pelo motivo ou quantas vezes na semana. Pra ele era a primeira vez, pelo menos naquele bar, realmente não lembrava de nada, apenas flashs de coisas que podiam ter acontecido de verdade mas talvez não ali.

Enquanto ficava confuso nos seus pensamentos, tentado lembrar porque estava ali, logo naquele bar, e porque era tudo tão familiar tendo ele nunca entrado naquele salão, é quando a balconista com lábios cor 'laranja-citrico' pergunta pra ele:

- O mesmo de sempre?