segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A Prestação;

Espero o ônibus.
Um indigente me chama atenção estendendo a mão
e fala:
- Uma moeda, senhor?

Vida dura, penso eu.
Ofereço-lhe o suícidio.

- Tome um cigarro, senhor!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Noé: cigarros e café.

Lá fora, depois de muito tempo sob um sol de 38 ºC, chovia. O clássico cheiro de poeira sentada pela chuva corria pelo ar despertando comentários. A muito tempo não se via cair uma gota d’água naquela cidade cinza e envenenada pela fumaça dos meios de transportes atuais.

De dentro de uma tabacaria saía Noé, sujeito magro, porem sedentário, com uma revista embaixo do braço e alguns maços de cigarros de filtro grosso.

Com todo aquele calor a idéia de Noé ao entrar na tabacaria era de usar o troco para uma bebida gelada, típica dos trópicos, mas a chuva que lhe pegou de surpresa exigiu-lhe um café.

Nada mal! Pensou consigo mesmo, vendo que o tempo cada vez mais se fechava, formando uma nuvem maior que a nuvem de fumaça que já fazia parte da cidade a tempos.

Passou em frente ao Café Vitória, lembrou que o expresso dali não lhe agradava. Mais a frente, cruzando duas transversais e virando à direita subindo uma ladeira, chegaria fácil ao lugar onde preparavam o melhor café & conhaque que já experimentara naquela cidade.

Tarde demais, a chuva já havia ‘apertado’.

Sentou, meio contrariado, sabendo que ali nada era de seu costume. Pediu logo o tal expresso, sem conhaque. Preferia não arriscar.

Abriu sua revista e passou a ler. Numa tabacaria normalmente não se encontram boas revistas, alias, a especialidade não é essa. É como ir à revistaria e exigir que vendam os melhores cigarros. Sabendo disso, nem se prendeu muito a leitura, passando a observar os cantos e quadros do local, passando os olhos por sobre clientes, jornais, copos, descansos para copos, revistas. Nas paredes; Van Gogh, Monet ou Portinari? Desistiu. Quadros nunca foram seu forte, arte nunca foi seu forte, com exceção da música, coisa que lhe rendia um interessante hobbie. Tocava xilofone.

Analisando ainda o lugar, passando os olhos por mais alguns cantos, acabou encontrando algo, não um objeto raro ou algo de valor, era uma moça, aparentava ter sua idade.

Não sabia se a moça trabalhava ali, não é normal que uma mulher de 30 anos freqüente aquele tipo de lugar sozinha -não por machismo-, mas o que lhe interessaria ali?

Cercado de dúvidas, ficava inquieto, as vezes arriscava levantar-se de perto do balcão, mas a moça notava seu movimento e assim ele se constrangia, voltando ao seu lugar. Uma cena patética, mas ela achava engraçado.

Tomou coragem e um gole do expresso que acabara de chegar. Sentou-se junto a moça na mesa, pensando ainda no que falar foi surpreendido por um ‘’Tudo bem?’’, que saiu de forma espontânea como quem queria dizer que não havia problemas em ele estar ali.

Respirou fundo e agora não agia mais como um adolescente de treze anos, estava mais seguro e propôs um dialogo, informal.

Passaram dez, quinze, vinte e oito minutos. A conversa fluía, achava, Noé, que havia encontrado uma companheira, no mínimo para um café no fim de cada dia. Mais três minutos se passaram e a mulher que passava a ser a dos seus sonhos explicou que chegava perto da sua hora e que precisava mesmo ir. Noé perguntou o porque da pressa se afinal, era solteira, não tinha filhos, nem mesmo família naquela cidade. Levantando e tirando debaixo da mesa uma mala estufada de coisas, concluiu que estava de passagem, mas que havia adorado a conversa, prometeu um dia quem sabe passar por lá outra vez e ficar por uns dias, mas naquele momento estava de passagem. Noé ajudou-lhe com a mala até a porta do Café Vitória, desejou-lhe boa sorte e se despediu. Lá dentro um pouco confuso, sentou no mesmo lugar, engoliu o que sobrou do expresso já bem frio e refletiu.

Pegou a revista e reafirmou sua teoria, a mesma da revista comprada na tabacaria. Agora debatia isso com o fato de ter se enganado ao ter uma breve ilusão de amor perfeito logo com uma mulher de cafeteria.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Louie Louie

''Dentro do ônibus via a cidade passar sem som, sem um mínimo ruído.
Ela havia sentado ali á poucos minutos e a vontade era de não levantar. Estava confortável.
Existiam acentos suficientes para que ela pudesse mudar de perspectiva por pouco mais de vinte vezes, na verdade pouco mais de nove se contarmos que o que lhe interessava eram os ‘’bancos da janela’’.
Ao invés de escutar as buzinas e os ruídos, preferia os fones.
Seu olhar parecia atento por trás das lentes escuras, pois, inclusive, seu corpo mexia quando via algo passar na rua que lhe interessasse, ou para ver quem acabava de entrar.
O cheiro da goma que mascava exalava após cada ‘’bola’’ feita e seguida de um estouro.
Em suas mãos, uma pasta transparente com um desenho que me lembrava pop-arte. Realmente era interessante. Apelidei-a de Louie''

- Após vê-la levantar-se para tocar o sinal e antes que chegasse a porta, entreguei-lhe a cópia do que escrevi acima, claro que logo abaixo seguia meu ‘número’.
No mesmo momento em que recebe a folha de caderno um pouco amassada, responde com um sorriso e passa a ficar vermelha como se tivesse acabado de ser colorida por Roy Lichtenstein.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Sobre Bêbados

O balcão era liso, de madeira grossa, com um tom 'marronfosco' marcado pelo fundo dos copos de outras pessoas que já estiveram ali, pelo mesmo motivo, ou não.

Pessoas que já sentaram ali só para conversar; com a balconista, com o bêbado ao lado; para falar dos problemas com lagrimas ou com exagerada felicidade contar seus sucessos; para comemorar, falar do passado, sonhar com o futuro, odiar o futuro ou apenas estar presente, de frente aquele balcão envelhecido pelo tempo e o tempo é quem trás as pessoas para perto dele, não o tempo em seu simples estado abstrato, o tempo concreto, o tempo dos acontecimentos quase palpáveis. O tempo que muda o caminho, que trás problemas, que faz você sair de perto do balcão caminhando torto, para fora, chutado ou andando, para o banheiro caminhando ou correndo a vomitar. Coisas que muitas vezes já aconteceram ali, em frente ao balcão.

Enfim, pediu um cigarro, acendeu e viu a brasa queimar, como quem assiste ao fim de um filme, com os olhos de alguém que a visão já é falha e tem que ler muito de perto o livro, eram sim, com esses olhos que olhava a brasa queimar, apertando de leve as pálpebras como quem força a vista. O cigarro lhe fazia pensar no que beber, um café seria nada em frente ao seu problema à sua magoa, o seu luto. Fosse o que fosse ele queria sair da frente daquele balcão muito bem, ou quem sabe pior do que já entrou, mas com seu problema resolvido, ou quem sabe apenas com essa ilusão, a ilusão que vem durante o porre, aquele pensamento de que tudo está bem e que faz o bêbado otimista rir de tudo, enquanto os bêbados pessimistas só choram; esses são os que bebem para ver os problemas, são tolos, que bebem para lembrar das coisas que tantos não conseguem esquecer.

A fumaça já lhe contornava o corpo, naquele momento sozinho lembrava do que aconteceu a horas atrás, e o que lhe trouxera ao bar era aquela velha história que lhe fazia tremer por dentro, como febre, que lhe ardia os olhos e acelerava seu batimento cardíaco, não tinha cura, talvez tivesse, mas nunca pagaria por isso, achava besteira recorrer a esse tipo de tratamento logo aos 49 anos de idade, se aquilo lhe trouxesse o fim então que fosse logo, que viesse o fim enquanto ele estivesse bêbado e imune a dor. Alargou o nó na gravata e seu terno já descansava sobre seu colo, ainda não sabia o que beber.

Passou pela sua cabeça quantas vezes já estivera ali, pelo motivo ou quantas vezes na semana. Pra ele era a primeira vez, pelo menos naquele bar, realmente não lembrava de nada, apenas flashs de coisas que podiam ter acontecido de verdade mas talvez não ali.

Enquanto ficava confuso nos seus pensamentos, tentado lembrar porque estava ali, logo naquele bar, e porque era tudo tão familiar tendo ele nunca entrado naquele salão, é quando a balconista com lábios cor 'laranja-citrico' pergunta pra ele:

- O mesmo de sempre?

sábado, 27 de setembro de 2008

Pretesto - Pré-texto e Um Certo Ninguém.

É sem sentido, sem ordem, talvez sem fim. Realmente um resultado de falta de criatividade, ou não.
Mais uma história de um certo rapaz ou de uma certa moça, enfim, de um certo ninguém.
Faltavam-me digamos que personagens enquanto eu pensava em escrever algo no bloco de notas, faltava-me quase tudo, mas a vontade de escrever alguma coisa era maior. Sem alcool ou alguém interessante que me desse criatividade para no mínimo criar um rascunho do que em algumas horas eu pudesse achar ''bom'' pra por no blog.
É uma besteira achar que eu nunca mais vá postar nada aqui, alias falar sobre isso vai criar um futuro bloqueio, tenho medo.
Nesse tempo que relativamente eu perdi aqui, pensando, escrevendo e apagando, muita coisa podia ter acontecido, aliás, não precisava ser muita coisa, apenas um detalhe podia desencadear uma estória daquelas que tu até cria uma intimidade, uma espécie de identificação que tu cria depois de criar algo.
Realmente eu não precisarei de filhos, isso se meus cadernos continuarem inteiros. Isso não vai acontecer, digo no sentido deles -os cadernos- nunca serem destruídos, rasgado ou riscados, principalmente por que isso seria obra de um filho meu.
Eu realmente não tava afim de prolongar esse 'texto' afinal ele no fundo não
diz nada, e também não tenho essa pretenção.
Prometo voltar com coisas melhores do que o post que segue.

Um certo personagem sem nome, que não tinha vícios, nem manias, nem um grande amor, nem uma história trágica à contar e também com facilidade poderia descrever toda sua vida -que estava em torno de 40 anos- em um papel de 24 linhas, caminhava pela primeira vez pelo bairro onde nasceu, quero dizer, ele usou desde de que nasceu, deu seus primeiros passos, e fez seu caminho para a escola e depois o caminho para o emprego sempre pela mesma rua, era uma espécie de medo que ele tinha, uma falta de coragem de tentar ver o tamanho do mundo ao seu redor, era muito sem graça sua vida, poucas emoções além das Copas do Mundo que ele havia visto antes de sua TV pifar e ele ter medo de procurar pelo bairro por uma eletrônica ou loja de eletrodomésticos, mas enfim, ele caminhava pelo bairro e em 20 minutos acabou encontrando:
- A mulher da sua vida.
- O carro que gostaria de ter
- Novos vizinhos
- Uma loja de eletrônicos
e o carro que fez ele ver o fim.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O vento.

Andrade abre o livro. E era normal que naquela hora nada o desse motivo ou entusiasmo, que seja pra ler ou absorver conhecimento como ele mesmo gostava de dizer.
Já ventava forte faziam alguns dias e ele nao conseguia arrumar o defeito da janela, que fazia um barulho filho da puta impedindo que as madrugadas que precediam o ciclone extra-tropical lhe dessem vontade de dormir.
E era assim, em meio a insônia, cinzeiros cheios e garrafas vazias que ele tentava pensar na sua vida que nos últimos meses vinha se tornando cada vez mais sem graça. ou como gostava de dizer - ''sem sal''.
Na tv já não passava mais nada, e a color-bar só servia pra ele se sentir mais angustiado. Mais angustiado do que quando ele via que sua aparência mudou tanto nos ultimos longos meses, que ganhara olheiras, que a ponta de seus dedos agora tinham um tom amarelo como seus dentes, que suas unhas quase nao existiam e que a pele ainda sangrava.
Com algo preso a sua garganta - claro que psicológicamente - lhe dando a sensação de nausea, cambaleou ao banheiro, buscando o vaso, e claro o que foi deixado lá não era apenas alcool, para ele eram seus deslizes, arrependimentos, palavras não ditas, quem sabe também não fosse sua conciência, que insistia a lhe culpar por coisas que ele fez.
Agora se sentia melhor, tirando o fato de uma enxaqueca acompanhada de fotossensibilidade, nada que café e oculos escuro não pudessem consertar. Estava de bem com ele mesmo. Sua janela não fazia mais barulho, o vento havia parado, e as primeiras luzes ja começavam a refletir em sua janela; no quarto a tv ja voltava a passar os primeiros tele-jornais e ele sentado na cama
observando. Não observava nada concreto, seu olhar era perdido, talvez nem ele mesmo soubesse o que se passava na sua cabeça, mas era algo como uma reflexão, agora que ele tinha sono e sabia o quanto aquilo valia, mesmo que não fosse o sono da noite, mas era sono e na hora a insônia parecia nunca ter existido.
Tudo funcionava extremamente bem depois daquela noite, ele tinha noção do quanto valia o sono, estar sobreo -apesar da ressaca- não estar enjoado, assistir a tv. Tudo aquilo ganhava um valor extraordinário que ele só conseguia pensar em passar outra noite daquelas, junto a todo o lixo que não lhe fazia bem, mas era isso o que ele gostava de sentir, mentir pra si que havia graça na vida sobrea e também na tentativa de viciar ao tédio.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

.Valentine

Em passos médios, as vezes rápidos, segue em direção ao seu apartamento com três discos em uma sacola ''branco-amarelado'', e que ganhara dois pequenos furos após as cinzas de seu cigarro cairem sobre a sacola.
Abre a porta do prédio com os ombros, já que na outra mão carregava um embrulho de papel com garrafas e alguns maços do segundo melhor cigarro da cidade, coisa que pra ela era ruim como um vicio, já q gastava seu dinheiro antes em cigarros, depois pensaria como pagar a mensalidade do apartamento, que por sinal era pequeno em vista do valor que pagava as vezes atrasado para que a 'Velha' -pois não sabia seu nome- calasse a boca de poucos dentes.
Caminhando pelo minusculo corredor, próximo as caixas de correspondência via um velho bebado que aproveitava a porta do prédio sempre aberta para sentar no corredor e se abrigar do frio, e naquele dia para fugir da chuva que se aproximava deixando ainda mais cinza aquela cidade falida e sem graça como qualquer cidade satélite.
Valentine, ao chegar no seu apartamento logo fecha as janelas para que a chuva não entre, larga os discos sobre o sofá, e vai até a cozinha largar o embrulho com as bebidas. Ao sentar na mesa coloca as mãos pouco acima das orelhas apoiando os cotovelos sobre a mesa e fazendo com que seu cabelo tape seu rosto, assim fica por um minuto ou dois, respira fundo, levanta a cabeça e quase sem olhar por onde passa a mão pega um cigarro.
Sobre a mesa havia um jornal, algumas contas e um cinzero transbordando fazendo com que ela pensasse no seu vicio. Segue para a sala, senta no chão, a frente do sofá, pega sem selecionar o disco dos The Bigs, uma banda velha de Blues de New Orleans. Fumando e escutando aquele som denso do vinil passa a pensar no que fez durante os 33 anos de vida, na sua carreira falida e sem espectativa de projetista do unico e vagabundo cinema da cidade. Talvez ficar lá dentro sozinha durante horas por dia tenha feito ela desistir de uma vida social com amigos, festas e etc, ou simplesmente fez ela perceber que nada disso faz falta na verdade.
Quando colocaria pra tocar o proximo vinil, a ''Velha'' bate sua porta, ela levanta, apaga o cigarro que ja estava no fim e vai atender a porta antes que a própria senhora abra. Enquanto virava a chave parecia poder sentir o cheito de suor que estava entranhado no pijama que a Velha usava, era algo sujo, com marcas amarelas que poderiam ser baba ou algum antibiótico que a velha havia derrubado a muito tempo atrás.
Enquanto girava a chave a velha ja baixava insistentemente a maçaneta fazendo com que arranhasse as mãos de Valentine, que ao destrancar a porta fez com q a velha saltasse a frente e fosse parar a um passo dentro do apartamento.

-Vai atrazar? - diz a velha com uma vóz rouca mas impositora, quase como a de um general aposentado.
-Depende! - responde com um tom grave e deboxado.
A velha que não foi ali exatamente para fazer perguntas nem muito menos ouvir as respostas curtas de Valentine, simplesmente ignora a resposta e da dois passos a mais para dentro do apartamento e diz:
-Cuida melhor desse lugar!
...é tão sujo quanto um galinheiro-
Era normal da velha pausar o que falava e apenas balbocear durante um tempo, e então seguir seu comentário.

Valentine II

Valentine segura a porta aberta esperando que ela saia, a velha arrasta os pés com seus sapatos comidos, que talvez fosse de seu falecido marido e sai de dentro do apartamento a encarando.
Eram quatro da manhã mais ou menos e Valentine acorda ouvindo barulhos que vinham do apartamento ao lado, que seria da Dona Velha, seria normal para ela dormir -ou não- com os barulhos de digamos ''Limpeza Noturna'' que era um velho hábto da sindica. Com o sono arruinado pelos barulhos vizinhos, Valentine levanta para ir ao banheiro que tinha sua parede encostada no quarto de Dona Velha. Sem querer ouviu uma voz masculina vinda do quarto da vizinha, Dona Velha não tinha marido, e deduzia Valentine que então poderia ser um ladrão ou algo do tipo, como não gostava da velha Valentine apenas verificou se sua porta estava bem trancada, fechou bem as janelas e esperou que enfim a velha fosse espancada, pois para Valentine era o minimo que a credora merecia.
Amanhece e Valentine havia dormido sentada no vaso, enquanto esperava ouvir os gritos de socorro da velha, mas não foi o que ouviu, talvez não tivesse acontecido nada, ou talvez Valentine dormiu tão pesado que não ouviu, isso fez com que ela ficasse um tanto curiosa em saber o que havia acontecido. Ao sair para trabalhar, como de costume já com algumas doses do Whisky Èttan. no sangue, desce com calma os degraus do prédio e sempre com a cabeça erguida
em direção a porta de Velha afim de notar alguma marca de sangue, ou se a velha sairia de dentro do apartamento na mesma hora, mas nada aconteceu. Chegando no corredor já pronta para desviar do mendigo que ficou deitado ali pelo menos durante os 11 meses que Valentine morou naquele predio, se surpreende ao ver que só haviam um cobertor e uma garrafa de Gim vagabundo pela metade.
''Talvez tenha saído para arranjar comida em algum lugar por perto, mas também pode ter sido responsavel pela barulheira noite passada'' - Foi o que passou pela sua cabeça, mas muito rapidamente, Valentine não se preocupava com o que acontecia aos outros, achava que isso só traria mal a ela, era uma espécie de fobia a vida alheia, ela vivia sua vida e Só sua vida.

Valentine III

Na sala de projeção, o filme do dia que seria passado durante cinco seções consecutivas era uma comédia moderna, daquelas bem alienadas, sem um 'pingo' de realismo, cheio de risadas e seqüências musicais felizes e cheias de cores.
Seria mais um dia entediante, já que nem com o filme ela poderia se destrair, o maximo de lazer que teria ali, seria tomar café e pensar sobre coisas vagas, e infelizmente não foi no que ela conseguiu pensar, quando acabou o expediente Valentine notou que havia passado o dia pensando na ultima noite, no mendigo e na Dona Velha.
Quando volta para casa ve que o mendigo havia voltado, mas para buscar suas cobertas, pois elas não estavam mais ali.
Dentro de seu quarto, deitada na cama, Valentine entra em uma espécie de depressão, se culpando por estar se preocupando com a vida alheia e não com a sua, por mais sem graça que fosse devia ter olhos apenas a si mesma, se envolver com outras pessoas poderia lhe trazer conseqüencias ruins, e se envolver com a vida das pessoas poderia fazer ela esquecer de si mesma, uma coisa que não era muito dificil.
Valentine abre outra garrafa, dessa vez no bico, nada de copos, a dose que ela precisava ocupava todos aqueles 600ml de whisky.
Obviamente não toma toda a garrafa, quando nota que precisa de força pra se levantar, e ir ''matar'' o que lhe fazia mal, ela queria resolver naquela noite todas as questões que lhe traziam duvidas e que lhe faziam pensar na vida da Velha.
Apoiando-se na parede consegue chegar até a porta; destranca, e só de lembrar que a velha não estava ali pra lhe encomodar era como se houvesse um vazio, como se até seu inimigo tivesse esquecido dela ou que estavam escondendo -e por que não- algum segredo, e fazia ela ao mesmo tempo se questionar, querer saber por que a vida dos outros voltou a ser tão importante pra ela, se sempre foi disso que ela fugio, e agora só por culpa de uma noite de insonia a vida alheia passou a fazer parte da sua.
Enfrente a porta da Velha, encara o olho magico, e bate na porta, não como uma pessoa normal bateria, bate com a palma mostrando todo o desespero e angustia que tinha dentro dela, e ao mesmo tempo era como se uma segunda personalidade -uma espécie de Antiga Valentine- lhe perguntasse o por que estava ali, e tentava lhe fazer refletir o ponto a que chegou, mas na hora nenhuma reflexão adiantava, só a fazia confunir mais, se culpar e automaticamente a Dona Velha
que a acordou noite passada.
A vontade de chorar só aumentava, até que cansada de bater Valentine põe a mão na maçaneta tentando a sorte, ja pensando que estaria trancada, mas não estava.

.Valentine IV

Um pouco mais aliviada Valentine limpa a mucosa que saia de seu nariz, e se misturava as lagrimas. Passo-a-passo, colocando sempre o olhar a frente de cada comodo ela procura a velha, ao ver que a casa está vazia, passa a olhar algumas fotos antigas que estavam sobre uma estante, até que passando o olhar por varias fotografias ve um casal, de idosos, e fica estática olhando a foto. Era o mendigo do corredor de entrada e a Velha, juntos, sem filhos ou qualquer criança por perto, mas pareciam ser casados, a ira toda voltara e junto uma crise de choro, ela não se conformava em estar dentro da casa de outra pessoa, sabendo da vida de outra pessoa ao invéz de apenas viver sozinha, como ela sempre fez.
A porta abre e ela corre pra cozinha, a velha está sozinha vestindo outras roupas ao invéz do velho pijama, ela se esconde embaixo da mesa e a velha passa pela cozinha, deixa algo sobre a mesa e vai para o quarto, Valentine sai de onde estava, e vai ver o que a velha havia posto ali. RE-HABILITAÇÃO dizia o envelope, embaixo o nome do paciente, era o nome do mendigo do corredor. Ao ver aquilo, e a toda situação que ficou exposta, ao ver que por culpa da sindica havia se envolvido na vida pessoal de outra pessoa, e fazendo assim ter que enfrentar seu maior pânico. Familia, amigos, namorados, nada disso lhe fazia bem, o espaço que pessoas poderiam ocupar na sua vida foram sempre muito bem preechidos por tabaco e alcool, e sozinha ela mesmo podia julgar o que pra ela seria o certo, vivia como um hermitão, morava numa cidade mas não tinha contato social com ninguém, e se houvesse ela não se importava e fazia qualquer tentativa de amizade ser falha, pra ela o único dialogo valido era com sua própria conciencia e era com ela que sempre se sentia confortada, e aquela situação de estar numa espécie de territorio inimigo onde as regras não eram dela lhe trazia desconforto e hostilidade, e como qualquer animal encurralado o unico meio dela sair dali seria matando seu opositor.
Da janela do oitavo andar cai um corpo, no chão já em óbito uma jovem que fez 33 anos a dois dias atrás, foi a única forma de matar o seu maior inimigo, alguém que lhe enchia de traumas, de limites sociais e mentais, alguém que lhe resumia a vicios, um ser depressivo que talvez Valentine não gostasse e por isso lhe matava aos poucos com venenos licitos, drogas que passou a usar como quociente de pequenos traumas, que lhe trouxeram uma espécie de esquizofrenia, que fazia pensar que estava sozinha, que estava longe de todos e que até seus pais fossem meros velhos, tal como uma sindica e um indigente.


domingo, 27 de abril de 2008

Editais.

Era um sábado, e ele acordava quase sempre as 13:33h, mas somente quando acordava de alguma festa ou qualquer coisa que o fizesse cansar, pois estava acostumado a acordar cedo, ás sete da mãnha para trabalhar. Levantou, ainda que com vontade de dormir mais um pouco, mas a dor na sua cabeça, o suor e o barulho do vizinho fariam a volta pra cama ser desagradavel; lavou o rosto, abriu a geladeira, coçou a bunda, tomou café lendo o seu vicio, editais de jornal, era mais um sábado em que ele se arrependia de ter saído, ou talvez de ter voltado pra casa.
Como naquela tarde de sábado chovia, não muito, mas o bastante para que Otávio nao quizesse sair pra algum lugar, da janela de sua casa ele observava a chuva e as pessoas abaixo correndo para fugir dela, enquanto ouvia o vinil de uma das suas bandas preferidas, já eram 14:30 mais ou menos, e ele ainda não havia pensado em nada de interessante para escrever, nem contos, nem música, nem frases que seguidamente 'apareciam' na sua mente, nem muito menos um sinonimo pra procurar no dicionário. Infeliz e se sentindo como alguma coisa vazia e sem criatividade, Otavio liga a tv e assiste um programa normalmente visto por mulheres solteiras ou mal amadas que ficam sozinhas em casa no meio da tarde.
Totalmente entediado ele cochila umas tres vezes até que pega no sono acordando somente na hora em que passava um anuncio/aviso, que seu País estava passando por uma revolta generalizada de diversas facções separatistas e que ele devia, como jovem, comparecer urgente a uma sede do quartel, levando os devidos documentos e deixando em casa sua mochila já pronta para que se fosse aceito, voltasse com os militares para busca-la e assim seguir viajem até a zona dos conflitos.
Otávio, como o resto dos civis, ja sabia da tal revolta dos grupos, mas não estava preparado, achando que era mais algum breve protesto como varios que já haviam ocorrido no seu país durante toda sua adolescência.
Á noite, após fazer contato com alguns amigos que também pela faixa etaria, deveriam se apresentar nas forças armadas, resolveu escrever alguma coisa que no momento vinha à sua cabeça, e suas palavras foram:
'' Depois de passar, grande parte da minha vida brincando com armas e matando meus inimigos que no outro dia acordavam mais cedo que eu e vinham me chamar para serem eles meus inimigos outra vez, agora eu de verdade sem a chance de acordar mais cedo que eles para chama-los a uma revanche, tenho que arrumar tudo que juntei na minha vida e resumir a uma velha mochila verde, e para aí então entrar em um carro que nao se move a pilha
e percorrer um longo caminho até encontra-los, e mata-los, agora pra sempre, sem que possam acordar mais cedo que eu e me chamar, e agora talvez seja pior, espero que meu pelotão siga sempre de olhos abertos para que uma revanche não nos faça dormir para sempre.''
Depois desses e mais poucos versos Otavio dorme com a caneta na mão, já esperando que uma buzina o acorde lá por umas cinco ou seis horas da mãnha, fazendo com que ele perca seu valioso domingo.
A viajem foi longa, diz o motorista para o Capitão, ou Sargento, ou alguem que cuidaria do provavel enganjamento de Otavio nas F.A do país.
Em uma sala que lembra um hospital, ele senta de frente ao mesmo homem que o recebeu, coloca sobre a mesa seus documentos, todos exigidos no anuncio que passava na televisao um dia antes.
Seu dialogo com o Capitão, ou Coronel ou seja o que for quem conversou com ele, foi rápido, perto do que Otavio esperava de um 'sargentao', ou Capitão, que foi o que ele deduziu ao ver a sigla Cap. no peito do homem.
O Capitão perguntou para ele qual era seu meio de sustento, Otavio respondeu francamente, que trabalhava na redação do Jornal Estatal, e que já havia escrito sobre os conflitos com os separatistas, o Capitão demonstra curiosidade, e diz também que não gosta de pessoas da midia, pois elas fazem um certo sensacionalismo com as reações que o quartel tem sobre os manifestantes e revolucionários, colocando as vezes medo nos civis que temiam uma ditadura rigida após esses conflitos que vinham crescendo a dois ou três anos. Otavio fica preocupado, com medo de ser recrutado pelo Cap. para que seja menos uma ''boca'' para a imprensa. Mas com muita inteligencia ele responde: ''Tenho uma visão diferente sobre a imprensa e seu sensacionalismo, levando em conta de que quando não era permitido divulgar nada sobre os conflitos com os rebeldes, a massa era enganada pela falsa história de que os civis que fossem a favor do conflito
e que se ''filiassem'' aos partidos revolucionarios estariam sendo felizes em suas decisões, já que nos acampamentos teriam do bom e do melhor, o que talvez nao seja mentira, mas nunca ressaltavam os riscos de vida que corriam lá, se por acaso houvesse conflito com as Forças Armadas, omitindo os conflitos eles insentivavam com mais facilidade o povo que só foi temer a filiaçao após a imprensa mostrar o modo desumano em que morriam os rebeldes. Pode não ser explicito, mas a midia mostrando as suas atrocidades ajuda a concientizar o povo. Eu assumo que já publiquei alguns 'zeros' a mais na hora em que escrevi sobre o numero de mortos e torturados, mas isso deve ter feito muitos desistirem de ser a favor a luta dos rebeldes.''
Depois de um aperto de mão, Otávio...Otávio... Dizia sua mãe, avisando ele para que não dormisse mais com a televisão ligada.

quarta-feira, 5 de março de 2008

9:46 - Fim

Pela manhã,o telefone de Monteiro toca, e ja pressentindo que poderia ser uma noticia ruim do hospital, pede para que Bette atenda, a noticia obvia mente não poderia ser pior, olhando para a cara de Bette, Adam e Monteiro, ja ficam sem reaçao.
-Sim, Phill tá morto- diz Bette com seu jeito seco de falar já acendendo um cigarro.
Adam vai pro banheiro sem falar nada e Monteiro abraça Bette.
Depois de todas as emissoras de tv encherem o saco dos ex-integrantes dos "Afônicoz'' durante 2 anos no minimo, enfim esquecem deles, Bette um ano após a morte de Phill, teve um caso com Adam, mas nada durou mais que uns 2 anos, Adam casou com uma fã de sua extinta banda e foi
morar em New York, lá ele trabalhou como uma pessoa 'normal', usando terno e gravata em um predio publico até quebrar a perna jogando Cricket, e tendo que se aposentar.
Monteiro casou, mas depois de 2 anos ficou viuvo, e se matou.É,simples assim!
Depois de quase 6 anos sem contato com os outros integrantes de sua antiga banda, Adam, dando uma volta pelos bares de Nova Iorque com sua muleta, acaba encontrando Bette, reconhecendo ela pelo seu baixo amarelo, ela demora um tempo pra reconhecer Adam, ja que ele nunca havia usado o cabelo tão curto como agora, ela tocava agora em uma banda underground, mas estava de passagem por New York, pois agora morava em Buenos Aires, pois lá as coisas davam mais certo pra ela.
Feliz em rever ''um velho amigo'', Adam fica sabendo da morte de Monteiro, pois Bette nunca perdeu contato com ele, Adam mostra as fotos de seus filhos, gemeos, nada muito interessante para Bette, que nunca quiz casar e ter filhos. Eles tomam mais uma cerveja, e Adam se despede dela saindo do bar pela manhã, ja que o avião de Bette sairia naquele domingo as 9:46 e ela preferia dormir no voo. Após a despedida, já dentro do avião, Bette lembra dos tempos antigos, quando fazia um sucesso notavel, mas logo não pensa mais nisso, já que está feliz com sua banda
Em Nova Iorque, Adam encontra em uma loja velha de discos, e discos agora eram seu hobby, o album 'The Grape', o primeiro de sua banda, apenas com musicas em ingles, um ingles infantil por sinal, e esse ele ainda não tinha.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O Meio...

Phill, é o primeiro a sair do palco, quase se arrastando, as luzes que vinham do palco em direção
ao publico deixavam seu corpo mais magrelo ainda, e como sempre ele nunca desce os degraus que dão acesso ao camarim sem pisar errado e quase cair. Bette, a baixista, leva seu baixo junto, como se fosse um filho, levando ele ainda com a correia pendurada naqele baixo amarelo fosco. Adam, sempre mais atencioso com o publico, joga a palheta, vai até ponta do palco, agradece, fala algumas coisas no microfone, e se direciona ao camarim, junto com Monteiro, que joga ao publico as baquetas, a camisa, e o que mais ele pudesse tirar até um certo limite.
Já no backstage, dentro do camarim, a banda bebe sem muita animação, falam sobre Phill, que não está mais lá, naquele momento já estava a caminho de um hospital certamente quase em coma, talvez por motivo de outra dose após o show.
No outro dia o resto da banda, exceto Phill, que estava internado,com obviamente overdose, da uma entrevista a algumas redes de TV, entre as perguntas mais feitas estão: ''Onde está o Phill?'', ''A banda vai acabar mesmo?'', ''Bette e Adam, voces tem um caso?'', etc. E naquele clima tenso, chato, e de pressão, Adam encerra a entrevista.
Dentro do carro os amigos resolvem, ao em vez de ir direto dormir no hotel e pensar no que fazer após o fim da banda, que só não tinha um anuncio de término ofical, preferem passar no hospital onde Phill estava internado. Chegando lá vêem que ele não está melhorando, como a hora da visita ja havia passado ha meia hora, os amigos de Phill preferem ir para o hotel,
já que não adiantaria ficar ali...
[continua]

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

The Grape

''Faltam 2 minutos, 2 minutos...''
Era o que dizia uma certa mulher com aqueles microfones presos a fones, ou
vice e versa, com um colete verde escuro, quase musgo, escrito nas costas algo que começava com 'P'.
Era assim que tudo começava sempre.
Enquanto as luzes acendem e apagam, ao ritmo da bateria onde R. Monteiro, ja estava posicionado havia um tempo, e ali ele estava acostumado a fazer um 'showzinho' particular, enquanto seus amigos convenciam Phill à entrar no palco. Ja acostumados com a situação, Bette La Rosa, baixista, e Adam, guitarrista, sempre que não convenciam Phill a entrar no palco, contavam até 3 e arrombavam a porta do banheiro , onde, se houvesse um, ele certamente se trancaria, dando depois a desculpa de que tinha dores violentas no estomago, ou na cabeça, mesmo sabendo que nessa ninguem mais caía desde que foi preso por portar heroína num vôo devolta à capital, e foi foi o que fizeram.
Então sobem ao palco, para o alivio de Monteiro, que não agüentava mais inventar solos de bateria, rufadas, entre outras firulas.
Todos devidamente prontos, ou quase, esperam Phill que fazia a base, dar a primeira palhetada, iniciando um show que dependendo do humor e da dose que ele tomasse, duraria no maximo 30 minutos.
Começam tocando ''Luna'', que apesar do nome, parte dela apenas era em espanhol, é onde o público fica euforico, mas apenas por que havia começado o tão esperado, e um dos ultimos shows dos 'Afônicoz', depois passando por 'Turcos', musica do primeiro CD da banda, mas que pode ser considerada um hino pelos fãs, enseguida 'coladas' umas nas outras, vem 4 musicas que são boas, mas que não tocaram muito nas radios nesses 7 anos de midia, depois disso vem uma 'baladinha' só com guitarras e bateria, depois disso
mais 2 'hits', uma ultima musica, digamos que 'quase inédita', até que surpreendem com um cover de uma banda da Costa-Oeste, chamada 'Nôrmans'.
Faltando uns minutos para acabar o show, apenas mais uma musica, Phill, se despede, avisando que seria a ultima, então tocam a ultima canção, chamada, 'Ellos'.
continua...