sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O vento.

Andrade abre o livro. E era normal que naquela hora nada o desse motivo ou entusiasmo, que seja pra ler ou absorver conhecimento como ele mesmo gostava de dizer.
Já ventava forte faziam alguns dias e ele nao conseguia arrumar o defeito da janela, que fazia um barulho filho da puta impedindo que as madrugadas que precediam o ciclone extra-tropical lhe dessem vontade de dormir.
E era assim, em meio a insônia, cinzeiros cheios e garrafas vazias que ele tentava pensar na sua vida que nos últimos meses vinha se tornando cada vez mais sem graça. ou como gostava de dizer - ''sem sal''.
Na tv já não passava mais nada, e a color-bar só servia pra ele se sentir mais angustiado. Mais angustiado do que quando ele via que sua aparência mudou tanto nos ultimos longos meses, que ganhara olheiras, que a ponta de seus dedos agora tinham um tom amarelo como seus dentes, que suas unhas quase nao existiam e que a pele ainda sangrava.
Com algo preso a sua garganta - claro que psicológicamente - lhe dando a sensação de nausea, cambaleou ao banheiro, buscando o vaso, e claro o que foi deixado lá não era apenas alcool, para ele eram seus deslizes, arrependimentos, palavras não ditas, quem sabe também não fosse sua conciência, que insistia a lhe culpar por coisas que ele fez.
Agora se sentia melhor, tirando o fato de uma enxaqueca acompanhada de fotossensibilidade, nada que café e oculos escuro não pudessem consertar. Estava de bem com ele mesmo. Sua janela não fazia mais barulho, o vento havia parado, e as primeiras luzes ja começavam a refletir em sua janela; no quarto a tv ja voltava a passar os primeiros tele-jornais e ele sentado na cama
observando. Não observava nada concreto, seu olhar era perdido, talvez nem ele mesmo soubesse o que se passava na sua cabeça, mas era algo como uma reflexão, agora que ele tinha sono e sabia o quanto aquilo valia, mesmo que não fosse o sono da noite, mas era sono e na hora a insônia parecia nunca ter existido.
Tudo funcionava extremamente bem depois daquela noite, ele tinha noção do quanto valia o sono, estar sobreo -apesar da ressaca- não estar enjoado, assistir a tv. Tudo aquilo ganhava um valor extraordinário que ele só conseguia pensar em passar outra noite daquelas, junto a todo o lixo que não lhe fazia bem, mas era isso o que ele gostava de sentir, mentir pra si que havia graça na vida sobrea e também na tentativa de viciar ao tédio.