sábado, 20 de novembro de 2010

Denise, eu te odeio!

Eu tava de porre no sofá quando recebi a ligação do meu chefe perguntando o motivo da minha ausência no trabalho, respondi nada com nada e desliguei já com remorso da cagada que eu acabava de cometer. Terminei a garrafa de vinho e fui correndo porta à fora, na chuva e logo em seguida porta à dentro em um boteco de esquina, daqueles com duas portas, uma para cada rua. Acordei no outro dia com uma ressaca fulminante e querendo saber onde eu havia perdido minha carteira e quem sabe minha dignidade também. Liguei para Denise e ela disse que viria, mas entrei no banho ainda sem saber à que horas chegaria. Ela recém havia acordado e eu estava de ressaca, meus olhos pouco se abriam, não conseguimos nos programar muito bem, mas ela viria.

Enquanto eu dormia no chuveiro Denise tocou a campainha. Ao ouvir o som estridente que chacoalhava meu cérebro, a imagem de Denise, morena – quadris – largos – olhos – escuros, configurava-se em meu subconsciente até eu despertar – Sempre que de ressaca, me alertava para chamar Denise, pois sua voz tranquilizava meu “dia seguinte’’. Ela sempre vinha.

Denise, impaciente, começou a provocar um tumulto no prédio enquanto eu tentava me vestir com pressa. Denise tinha 18 anos e eu 23, porém sempre me tirando para bundão, a ainda adolescente acabava por me comandar desde a chegada até o final de sua visita.

Ela foi direto para o quarto. A maconha que a Denise trazia sempre me deixava anulado; mudo, surdo e irracional. Um primata. Um troglodita. Um espermatozóide.

Quando entrei no quarto ela já bolava um bom plano e um belo baseado. Denise tinha um sorriso sincero e muita habilidade com as mãos.

Ela eu conheci no cinema do aeroporto. Carioca espaçosa, quando vi já estava me fazendo essas visitas para cuidar da minha ressaca, ou até mesmo bebendo junto comigo, cultivando uma ressaca. Carioca encantadora; depois dela não precisei amar ninguém. Não estávamos nem perto de um relacionamento, mas ela valia por todas juntas na minha cama. Carioca imoral; não tinha limites e não tinha vergonha. Aprendi com ela tudo que eu não precisava, segundo a moral da sociedade.

Aproveitamos nosso nível de "descompromisso" causado por aquilo que pra mim a Denise tem, de fato, plantado no seu quintal e fomos para o boteco do Alfredo – seguindo desta forma, o plano dela para o dia e para a noite –, lugar onde provavelmente esqueci minha carteira. Quando o Alfredo achava, me devolvia, se não achava eu fazia questão de esquecer que um dia eu tive. Um dia Alfredo encontrou uma ex-namorada minha, eu voltei com ela por um tempo, mas só porque o Alfredo havia achado e me devolvido – Depois fiz questão de perder ela bem longe. Outro dia Alfredo me achou jogado na calçada e me fez voltar para mim – Eu estava muito mal nesse dia. Alfredo um dia achou a Denise a melhor mulher do mundo e perguntou porque eu não casava com ela. “Eu não amo, Alfredão.”, respondeu Denise. Ele não precisava ter perguntado na frente dela. Essas frases me matavam. Não somente seus comentários desgostosos, mas também sua aprovação exacerbada, sua paixão forte, porém momentânea, que só ela sabia equilibrar com um pouco de algo que eu ainda não identifiquei em nenhuma outra mulher. Sei que era momentânea, pois ela contava suas histórias de fuga. Eu já não sabia de onde ela era e ela já não sabia pra onde ia. Ela só sabia que um dia não estaria mais ali, aqui ou lá.

Amor e ódio resumem Denise, e ela, mesmo apenas sendo descrita em palavras, sem foto, apenas seus fatos e frases, podem causar desajuste na mente de um cara fraco para mulheres. Ela não era um ser perfeito nem tampouco anormal, era ela e o mundo paralelo dela e mentia pra mim que eu pertencia a esse mundo e mentia ao mundo que ele pertencia a ela.

No outro dia eu acordo sem ressaca nenhuma, sem carteira perdida, apenas com um nome e um número a menos na agenda.

Corri na chuva porta a fora e em seguida o bar eu adentro procurando por Alfredo, filho da puta, onde se meteu o Alfredo? Ele respondeu esticando a cabeça até a altura do balcão e eu o questionei como se ele olhasse por mim diariamente a todos os meus pertences: "Onde diabos está Denise?" e ele respondeu, é claro: “Eu não sei.”

Foi embora, a Denise, como mandava seu roteiro. Por isso, Denise, eu te odeio!