domingo, 3 de maio de 2009

Joel

1983, uma casa antiga do século XVII ainda era habitada, mas aparentemente não.
A parede que um dia fora azul, agora tinha um tom esverdeado. Na parede oposta, perto da porta principal, encontrava-se Silvia, a mulher do pôster que Joel com certo esforço comprou em uma banca próxima. Silvia foi quem o inspirou pra descrever sua mãe e n’outro dia sua irmã, usando isso em alguns roteiros. Atualmente Silvia era algo sem papel na vida de Joel, muito menos em um roteiro. Silvia era sua musa, impressa a cada roteiro com nomes diferentes.

O roteiro inacabado desmanchava-se sobre a mesa após ser molhado por uma das goteiras dentre várias no teto. Acordou antes que a água cumprisse seu papel desagradável.
Eram oito da noite, espreguiçou-se e esfregou o rosto e começando ali sua jornada de trabalho, precisava pensar num roteiro novo. Enquanto digitava, olhava Silvia que fazia sempre a mesma pose, algo que um dia chegou a irritá-lo. Sentiu saudade de quando ela foi sua mãe no ultimo roteiro, mas era Clara, logo nunca foram a mesma pessoa.

Lá fora começava a nevar. Joel já não dormia mais de 4 horas havia muito tempo, mas precisava enviar o material em dois dias. Fugir seria uma boa opção, mas ele tentava manter a cabeça no lugar.
Foi até a cozinha, bebeu algo. O gosto de vinagre desceu quase sólido, comeu uma fatia de pão e voltou pra sala com a garrafa, parecia beber álcool puro. Após horas escrevendo, bebendo e olhando a cada segundo para Silvia, uma idéia brilhante encoraja Joel, que fixava o olhar sobre a imagem de Silvia. Resolveu ali se casar com ela, antes retirou o pôster da parede com cuidado, enrolou, guardou sob o casaco, pegou sua mala, enfrentou a neve e fugiu.

2 comentários:

Anônimo disse...

gostei, rubem. você é criativo e escreve bem

Felipe Celline disse...

Fugir sempre parece a melhor idéia. Haha. Cara, seus escritos são muito característicos! Me parece que você realmente escreve com "alma"
Abração!