sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A verdade é ficção. I

Eu já tava achando estranha essa historia da Patrícia (que, até onde eu sabia, namorava com o Marcelo há dois anos) me chamar pra conversar num bar. Ta certo, eu sempre achei que ela fosse assim mesmo - quer dizer, sempre achei que ela fosse ‘’sem problemas’’ – tudo bem, beber com um amigo que não vê há anos não é pecado, tão pouco traição, mas não me saía da cabeça perguntar para ela se o Marcelo ia junto ou não, mas ela é tão gostosa que eu evitei empecilhos e aceitei de cara. Esperei horas – mais ou menos 3 cigarros - e nada dela chegar, daí eu comecei a beber e meu plano de deixar ela bêbada pra perguntar o porque do nosso reencontro sem nenhum motivo aparente foi por goela a baixo empurrado por três garrafas de cerveja.

Quando a Patrícia entrou no bar eu já tava com um certo brilho no olhar e já tava afim de pedir a conta e convidar ela pra conhecer meu quarto/sala novo que eu havia alugado de um amigo que foi fazer “sei lá o que” no exterior.

Beleza! A Patrícia chegou bem no momento em que eu voltei do banheiro pra dar “aquele mijão” típico de quem já tá começando a sentir o álcool entrando no sangue e adormecendo a sua cara. No meu caso, o álcool já havia adormecido também minha cara de pau. Eu cumprimentei ela de longe logo que vi ela entrando naquele boteco estrategicamente escolhido por ser próximo ao tal apartamento. Como eu já não coordenava minha fala muito bem, reclamei do frio que fazia naquela noite só para disfarçar minha fala meio “torta’’. Enfim, cumprimentei ela também com um abraço apertado, coisa que eu jamais faria sóbrio – ainda mais sem perguntar antes pelo tal do Marcelo, seu namorado ciumento. Demorei um pouco para localizar onde eu tava sentado antes de ir ao banheiro e durante os primeiros 10 minutos da nossa conversa eu tentava lembrar se realmente era ali o local onde eu havia sentado antes.

Já estávamos conversando há mais ou menos duas horas, falando sobre o passado, sobre a escola e sobre o que estávamos fazendo atualmente. – atualmente eu só andava bebendo, fumando e procurando emprego, mas menti que estava de férias. A Patrícia sempre foi fraca pra bebidas, inclusive para bebidas sem álcool. Diziam que um dia ela passou mal depois de tomar uma lata de cerveja... cujo teor alcoólico era zero. Acho que ela fazia certas coisas “para aparecer”, por exemplo, ela me ligava de madrugada e falava que não conseguia dormir e perguntava se eu não tinha o numero do Marcelo, porque ela tinha trocado de celular e esquecido o numero do cara – veja só, pobre moça sem memória! Eu sempre dizia que não tinha, aí então me oferecia como ombro amigo e ela aceitava. Acho que eu sabia mais sobre ela do que o próprio namorado dela, aliás, ela nunca mencionou ele como um namorado, mas só dava pra ele há um ano e meio mais ou menos e isso eu sei também por ela ter me contado em uma dessas ligações noturnas – sim, eram esses os assuntos, mas eu sentia que ainda ia lucrar sobre isso.

O bar fechava às duas horas da madrugada, na verdade era uma espécie de lanchonete – escolhi esse lugar vocês já sabem por quê.

A gente foi pra frente da lanchonete e sentamos um pouco na calçada até terminarmos nossas latas, as ultimas, até que entrássemos no quarto e sala e abríssemos aquela preciosa geladeira vermelha onde eu guardava meu estoque etílico e nos afundássemos no álcool até que ela esquecesse se tinha namorado ou não. Aliás, eu ainda não havia perguntado – eu realmente tava com medo de perguntar isso e ela responder com um: ‘‘Tu estás confundindo as coisas, amigo”, sabe como é – Então a Putricia, assim alguns amigos meus chamavam ela na época de escola, virou a boca da lata em direção ao chão e falou com certa tristeza no olhar: “Acho que acabou...’’. Então eu, cavalheiro que sou, falei que tinha mais no “meu” apartamento e que ele ficava ali perto. Após isso o inferno começou. Ela respondeu que era uma boa idéia, já que o (filho da puta) Marcelo (esse nome ecoou na minha cabeça por um longo período) só poderia buscar ela após as dez da manhã, pois teria prova na faculdade – o retardado era contador e pessoas que vêm ao mundo para estudar exatas simplesmente não sabem ter um bom papo e a vida é feita de bons papos – Besteiras a parte, levei ela mesmo assim pro recinto. Tava bem imundo e ela meio que reclamou, mas depois que viu a geladeira sentiu-se mais à vontade. Eu já não tava afim de conversar e não sabia mais se ela queria dar ou não. Essa certeza, aliás, eu não tive em nenhum momento perto dela. Enfim, bebemos até ficarmos tão bêbados a ponto de conversar no banheiro enquanto ela “aliviava” – fato que no outro dia eu repudiei e tentei esquecer – Acordamos no outro dia de manhã, eu não lembro como eu fui capaz de dormir no chão e ela no sofá. Eu não lembro também como eu fui capaz de acordar de roupa perto daquela mulher. Enfim, acordei com o filho da puta ligando pra ela. Ela deu o endereço e disse que tava na casa de uma tia, ele foi buscar e é lógico eu não desci. Ela me mandou uma mensagem que eu só li quando acordei novamente às sete da noite do mesmo dia. Ela dizia, vocês sabem, pra eu ser menos inseguro. Disse também que era melhor eu perder a mania de transar e depois me vestir novamente, porque pegava mal. Pensei na hora: Eu preciso recuperar minha memória, sei que não vai acontecer outra vez, etc. O fato é que penso nisso até hoje, ainda mais quando lembro que uma semana depois ela mudou de telefone, cidade e estado civil.

3 comentários:

Anônimo disse...

bukowski.

Jéssica disse...

Impossível desprender da teia da história. Demais!

Arthur Alves disse...

Que coisa não?